LIMITES

Ultimamente tenho pensado em um assunto e gostaria de conhecer a opinião dos colegas fotógrafos a respeito.
Imaginemos essa cena:  uma capela linda, com paredes de vidro dando para uma área verde. Final de dia, um contraluz dourado. Na capela, um caixão e uma pessoa ao lado velando, em sofrimento, seu morto.
A pergunta que me vem à mente é: essa foto deve ser feita ou não?
Será que nessa época de controle sobre a imagem e direito à privacidade não seria um abuso a feitura dessa foto.
Mesmo que a pessoa não seja reconhecida, não seria uma invasão brutal de intimidade, ainda mais numa situação de dor?
Alguém tem o direito de violar esse momento?

20 Respostas para “LIMITES

  1. Na minha opinião, não.

    A vida não existe sem a morte, assim como a saudade não existe sem a partida. É um momento triste, mas não deixa de ter sua poesia e beleza.

    A cena, como foi imaginada por mim, é forte, e ainda que esteja retratando um momento de dor, como você à descreveu, acho bela.

    Mais: acho que essa coisa de limites hoje em dia um tanto quanto artificial. Qualquer coisa tem se tornado motivo para que um politicamente-correto de plantão venha dizer que é quebra disso, invasão daquilo. Não sei se seu questionamento trata disso, mas nesse caso em particular, não vejo problema.

    No máximo, e em respeito à pessoa que está lá velando, eu perguntaria se ela se incomodaria em eu fazer a foto.

    Abraços!

    • Discordo de você em relação aos que as pessoas falam sobre limites. Acho, ao contrário, que hoje ficou bacana dizer que as coisas não devem ter limites. Penso que não podemos fotografar tudo, por mais que a cena seja plasticamente bonita. As pessoas discutem a questão do direito da imagem, eu estou refletindo sobre a invasão da dor alheia. Até mesmo pedir permissão para fazer a foto me bate como uma agressão, como um desrespeito.
      Obrigado pela sua opinião.
      Abraços

  2. Algumas vezes me vi nessa situaçao. Todo dia de finados, por exemplo, chovem pautas de cemitério. Odeio ver aquele monte de gente sofrendo e chorando e não compartilhar da dor, pelo contrário, me aproveitar dela. Ao mesmo tempo, sou um profissional e preciso cumprir com que me foi pedido. Aí entramos em outra questão, o que é mais ético? ou que ética vale mais? Posso respeitar o sofrimento das pessoas e respeitar o momento e, dessa forma, ser antiético com quem paga meu salário e confia nos meus serviços.

    Pessoalmente, odeio fotografar nessas situações, só o faço quando sou obrigado, mas não acho que seja antiético, aliás acho impossível definir a ética, ela depende muito do ponto de vista

    • Você coloca uma situação diferente. Se você está muma pauta é porque a pessoa é pública ou se trata do dia de finados. Nesse caso acho que dá para fazer a foto sem incomodar a pessoa. Vi uma foto do Antônio Batalha uma vez, em um enterro concorrido, não lembro do caso, mas foi um que abalou a cidade e ele fez uma linda foto do pai com a mão sobre os ombros do filho, de costas caminhando numa aléia florida. Acho que foi capa do JB. Foto linda e respeitosa. Não precida dar um close, nem buscar a foto dramática.
      Obrigado pelo seu comentário

  3. Ao longo da história, vários pintores retraram pessoas mortas. Em algumas culturas, inclusive no interior do Brasil, é comum a família pagar para que o falecido(a) seja fotografado. Portanto, concordo com o comentário do Marcus Laranjeira.

    • Acho que até o pedido de permissão seria uma agressão.
      A questão é: para que fazer essa foto? Para mostrar para os pares? Colocar em concurso? Não vejo sentido expor uma pessoa num momento tão sofrido assim.
      Obrigado pelo comentário.

  4. Eu faria a foto. Não acho que estaria violando o momento. A não ser que fizesse alguma interferência como por exemplo uso de flash (argh), ou mesmo tirasse a atenção da pessoa. Estaria eternizando aquele momento, que por uma lado poderia parecer maldade eternizar a dor, mas por outro, estaria mostrando àquela pessoa que seu ente querido estava recebendo a luz divina por exemplo.

    • Complementando após ter lido os comentários anteriores…
      Não faria a foto pensando em um fim para ela, em um concurso, em exposição, em quadro…simplesmente a faria.
      Também não acho que seria necessário realmente expor a pessoa; a foto poderia ser feita sem idenfiticá-la.
      E o ato de pedir permissão já seria uma invasão. Sendo assim, faria a foto, e esperaria a saída dessa pessoa, para então fazer contato e perguntar se incomoda a “existência” daquela foto, se quer uma cópia…

    • Lembranças a gente guarda na memória. Na verdade o fotógrafo não quer eternizar uma cena bonita, ele quer, mesmo, fazer uma foto bonita dessa cena . A motivação é egoista.

  5. Não faria, como já não fiz em situações que trazem essas questões para mim. Quem sou eu para fotografar o momento íntimo de alguém (no caso de não conhecê-lo e/ou não ter permissão para isso)? É como um paparazzi fotografando as pessoas na praia ou num restaurante ou passeando com os filhos. Como o Sergio bem questionou no comentário, “para que fazer essa foto?”.

    • Seria minha atitude também.
      O que eu questiono na verdade é se o fotógrafo reconhece que existe algum limite ético para ele fazer uma foto ou se ele acha que pode fotografar tudo.
      A maior parte das fotos que ele fará, em casos semelhantes, ficará guardada em seu hd.
      Fazer uma foto por fazer, qual o sentido?
      A possibilidade, por menor que seja, de que ele está violando a intimidade psicológica da pessoa não é levada em conta.
      Obrigado pela sua opinião.

  6. Mas eu, Pepe Mélega, não faria pois se estou lá estou compartilhando minha dor com os demais.
    Pepe Mélega – fotojornalista, se escaldo para tal ia procurar dentro do possível realizar uma boa foto não me permitido uma invasão escancarada. Detalhe, se há pauta é porque se trata de um personagem publico, há a necessidade de ilustrar algo importante como noticia. Abs

    • Tomei a liberdade de aqui copiar, pois tinha respondido junto a lista. Naquele momento não consegui aqui postar. Abs

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